Primeira estudante indígena graduada na UFCAT fala sobre sua trajetória

Primeira estudante indígena graduada na UFCAT fala sobre sua trajetória

“É difícil, mas é possível”. Com essa fala a graduada em psicologia pela Universidade Federal de Catalão (UFCAT), Adriana Santiago Oliveira, pertencente ao povo Xakriabá, resumiu sua trajetória e sua resistência durante o período em que esteve na universidade. A psicóloga, primeira indígena a concluir recentemente um curso superior na UFCAT, contou que teve que lidar com o preconceito e que a todo tempo se sentia questionada quanto a sua capacidade, por conta de sua origem. A Coordenação de Comunicação Social (CCS) conversou com Adriana, que retornou para sua comunidade, na cidade de São João das Missões, em Minas Gerais. Confira um resumo da conversa.

Coordenação de Comunicação Social: Quais as suas expectativas, o que esperava ou imaginava, quando entrou na UFCAT?

Adriana Santiago Oliveira: Eu sabia que era algo diferente do meu cotidiano. A gente já vive uma experiência de contato com pessoas não indígenas, que não é muito boa, por isso não criei muita expectativa. Quando a gente chega na universidade, chega cheio de vontade, mas minhas expectativas foram mais no sentido de adquirir novos conhecimentos e ferramentas e levar isso para nosso povo, para potencializar nossas lutas cotidianas.

CCS: Por quais motivos escolheu a psicologia?  Tem relação com a possibilidade de aplicar o conhecimento em sua comunidade?

Adriana: Em nosso território Xakriabá, temos doenças, adoecimentos, que não conseguimos lidar apenas com nossos conhecimentos, com nossos rituais. Temos outros tipos de adoecimentos, um alto índice de suicídio na comunidade. A partir da análise dessa realidade, entendo que é preciso buscar esse tipo de conhecimento do mundo branco, em diálogo com os pensamentos tradicionais.

CCS: Qual a maior barreira ou dificuldade enfrentada por você durante a graduação?  Teve apoio para superar?  Como foi?

Adriana: A universidade tem regras muito ligadas a um certo padrão. Temos outras formas de vivência. A maior dificuldade foram os questionamentos sobre a minha identidade, o preconceito. As pessoas questionavam a minha capacidade, por eu ser indígena. Fui questionada sobre ser indígena de verdade, tive que afirmar isso e provar o tempo todo que sou capaz. Até por isso, quis utilizar meus trajes na colação de grau. Quando a universidade passou a ser UFCAT, começou a pensar mais nos estudantes indígenas. Tive dificuldade de lidar com o preconceito, mas os professores e alguns colegas me acolheram muito. A UFCAT ainda está engatinhando em pensar nessa diversidade cultural dos povos indígenas e espero que esse caminho seja trilhado por muitos.

CCS: Com o conhecimento adquirido, como pretende ser útil à sua comunidade?

Adriana: O conhecimento é para uso do meu povo, para articulação dos jovens, para construir algo. É tudo muito novo ainda, quero descansar um pouco, mas penso em alguns projetos, como vai ser a minha atuação, se preciso buscar mais conhecimentos, mas quero contribuir.

CCS: Que mensagem deixaria àqueles que pensam em cursar uma universidade, mas não se sentem encorajados?

Adriana: É difícil, mas é possível, espero que esse caminho seja para todos, para que contribuam com seus povos, com a diversidade. Estamos dentro da universidade e queremos estar dentro da universidade. É possível. Só espero que isso seja de forma menos dolorosa.